Na décima segunda volta, ele decide passar para a segunda faixa da pista. Assim que põe o segundo pé dentro da linha, começa a chover tão intensamente que a roupa fica colada ao seu corpo. Tão colada que quem o vê de fora diz que a roupa faz parte dele. Nesta nova faixa, aquelas três personagens já não são vistas e ele sente saudades. Muitas saudades. O nevoeiro desapareceu, mas agora está a chover. Ele não vê bem o que está à sua frente mas não se preocupa. O alguém continua atrás.
Ele começa a décima terceira volta e o alguém chama-o. Ele ignora, mas o alguém vai ter com ele. "Nunca mais me ligaste nenhuma". Ele limita-se a desprezar. "Não ouves?" Ele está chateado por não conseguir ver o céu, e muito menos como lá chegar... ele perde a cabeça e, sem pensar, acerta com um estalo na cara do alguém. O alguém abranda e ele ultrapassa-o. Apesar disso, o alguém continua atrás dele. Tão distante que quase não o vê, mas continua atrás dele. Ele está triste, por as coisas com o alguém terem dado para o lado errado mas segue em frente... aparentemente impávido e sereno. Sente-se completamente só.
Na décima quarta volta ele conhece uma miúda espectacular. Ela é mais ou menos da altura dele, tem o cabelo pelo meio das costas, ondulado, loiro. Ela tem umas mamas magnificas e um olhar tão dócil, que parece fá-lo esquecer a sua briga com o alguém. Tem uns olhos tão azuis quanto o azul do céu em que ele sonhou viver. Ele vê nela o novo sonho. Decide conhecê-la melhor.
Termina a décima quarta volta e começa a décima quinta volta sempre ao lado dEla. Agora conhece-a como se ela fosse parte dele... e até é. O primeiro beijo deles ocorre numa trovoada tremenda. Eles não dão conta da trovoada pois o ambiente entre eles é tão oposto ao ambiente fora deles, que para eles o tempo *parou*. Para eles não chove. Para eles não há trovoada, não há vento, não há céu. Há só eles.
Ele chega à décima sexta volta e nem deu conta de como acabou a anterior. Está tão vidrado nEla que nem sente a falta do alguém. Está tão mas tão vidrado nEla que, para ele, no lugar daquele temporal está o céu azul acompanhado de raios de sol brilhantes. Mas a realidade é que ele e Ela estão dentro do temporal mais extremo de sempre, mas, de alguma forma não são afectados. Enquanto vão percorrendo esta décima sexta volta eles vêm pessoas cair na faixa, vêm outros pálidos como fantasmas, e vêm ainda pessoas a abrandar, essas pessoas abrandam tanto que quase páram. Ele nunca viu ninguém parar...nem quer ver. Para ele a única realidade agora é Ela. Ele ama-a
Quando começa a décima sétima volta, juntam-se a ele e a Ela dois marginais. Tornam-se amigos. "Meu, experimenta isto" diz um deles. Aquilo eram substâncias pouco recomendáveis para o organismo (a.k.a. drogas). "Puto tens que experimentar isto, faz-te relaxar", os dois marginais oferecem tudo desde drogas e álcool a tabaco. e Ele e Ela aceitam de livre vontade. Após um pouco já estão os quatro a pregar rasteiras a quem ultrapassam e a passar por cima de quem está à frente. Chegam a roubar coisas a outros seres viventes daquela pista.
Décima oitava volta e ele repara que um dos marginais está a comer (ou, se preferirem, está aos beijos, apalpões e tudo o que ele não quer ver os outros a fazerem à sua namorada) a rapariga que ele ama. Ele não se consegue controlar. "Tão o que é isto?! Caralho, parto-te a boca!! Foda-se como foste capaz!?" grita ele para Ela e para o marginal. Ela está espantadíssima com a atitude dele e julga-o grosseiro, bruto, pior que um animal. Os dois marginais fogem com Ela e ele nunca mais os vê. Ele pára. Agora é que a sua vida parou. Perdeu o céu que desejava pisar e perdeu a...Ela, a rapariga que ele amava amar. A trovoada pára. Ele sabe que tem que estar à altura da terceira faixa. Mas ele sente tanto, mas tanto a falta dela que não sabe a quem recorrer. Deixou o alguém para trás e Ela deixou-o a ele para trás. Ele está mais uma vez só. E não percebe porquê. Mas quer perceber. É aí que o alguém o volta a apanhar. "Oh, não fiques assim... estou aqui...para ti...". Ele larga-se do alguém, corre o máximo que pode. Corre com os olhos fechados. E quando abre os olhos, dá por ele numa escada imensa. Não consegue ver o fim dos degraus "vou chegar ao topo" diz ele, determinado, "já perdi tudo o que havia para perder, já não tenho nada a perder". Ele começa a subir os degraus. Ao longo dos degraus ele nota duas coisas. A primeira, o alguém já não está atrás dele. A segunda, nos degraus estão três faixas, iguais às da pista de onde ele fugiu, ele está na segunda, mas quer passar para a terceira.
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